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19 de Jul, 2022
Tempo de Leitura: 14 min
Além de valioso para a saúde, um sexo de qualidade é visto pela maioria dos brasileiros como fundamental para a harmonia do casal. É o que aponta dados de 2017 da Pesquisa Mosaico Brasil 2.0, conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex), da Universidade de São Paulo. A pesquisa é uma atualização do questionário aplicado em 2008, o Quociente Sexual Feminino, que avalia a atividade sexual da mulher.
Para 95,3% dos entrevistados, o sexo é importante ou muito importante. A pesquisa contou com 3 mil participantes entre 18 e 70 anos, moradores de cinco capitais. No estudo, mais da metade das brasileiras afirmaram ter dificuldade para chegar ao orgasmo (55,6%). Entre as causas, 67% responderam que tem dificuldade na excitação e 59,7% sentem dor na relação.
Esse cenário de insatisfação não é animador, porque o sexo é uma brincadeira, uma troca, cujo objetivo é trazer ganhos para todos os envolvidos. Para ajudar nesse caminho de busca ao prazer, reunimos dicas de uma sexóloga/psicóloga e de uma ginecologista sobre como transar gostoso com saúde, qualidade, respeito e liberdade.
Desejo e consentimento
As premissas básicas de qualquer relação é o desejo e o consentimento de ambas as partes, afirma a psicóloga e sexóloga Erika de Paula. “Fazer só para agradar ou forçado não é legal. É preciso estar segura do que é aquele encontro e fazer dentro de um espaço que não vai deixar ninguém exposto”, afirma a sexóloga.
Autoconhecimento
Conhecer o nosso corpo é uma tarefa de casa constante e fundamental para ter relações sexuais mais satisfatórias. Abre caminhos para explorar e ter respeito também pelo corpo do parceiro. Para trabalhar esse autoconhecimento, além de se tocar e sentir prazer consigo mesma, as dicas são “buscar uma terapia sexual, experimentar brinquedos eróticos, ir a workshops sobre sexualidade e procurar sempre novas referências para ressignificar a transa.”
Como transar gostoso com segurança
Para um sexo seguro, o preservativo é amigo número 1, segundo a ginecologista e obstetra Karen Rocha. “O preservativo é extremamente eficaz, fininho, o lubrificante é pouco alérgico e a resistência é muito grande.” Também é o melhor método para evitar gravidez e DST’s (doenças sexualmente transmissíveis). “O jeito protegido é o jeito certo de transar, e o preservativo é ótimo, barato e sem efeito colateral”, afirma a doutora.
Quando fazer check up?
Para pessoas com sistema reprodutor feminino, a Organização Mundial da Saúde recomenda o exame preventivo a cada 2 anos. A ginecologista afirma que, “no Brasil, a gente pede para ser anual, porque queremos criar uma rotina de autocuidado”. É importante fazer também o exame Papanicolau e exames de sangue para verificar DST’s.
Os exames necessários dependem da idade e do estilo de vida. Se ela é ativa sexualmente ou não, se é LGBTQIA+, se é viúva etc. “Para adolescentes, por exemplo, o ideal é ir pela primeira vez quando há dúvidas, presença de cólicas menstruais, ciclos menstruais muito irregulares ou anormalidades nos pelos ou nos seios”.
Comunicação é a chave
Cada indivíduo é único e não dá para adivinhar as preferências e zonas erógenas sem comunicação. Não tem como transar gostoso sem falar o que gosta. “A comunicação é muito importante para sermos assertivos. Muita gente acha que está ali abafando e não está, porque não perguntou se está satisfatório”, afirma a sexóloga Erika.
É importante ser claro sobre nossos interesses não só no momento da transa, mas em todos os aspectos da relação, evitando ghosting ou comportamentos que causem sofrimentos físicos e emocionais. “Tem que regar o desejo para que o outro queira não só aquele dia, mas outros dias também”.
Saliva e Lubrificação
Fazer penetração com os órgãos genitais secos pode causar desconforto, inchaço, problemas de infecção urinária após a relação e às vezes incapacidade de transar mais tempo no mesmo dia.
Sobre lubrificar com saliva, a ginecologista é categórica: “a lubrificação é fundamental e a saliva é melhor do que nada, mas não é o ideal”. O segredo é a preliminar. “Se você estiver fazendo uma preliminar legal, dando um beijo, uma pegada, a tendência é que a necessidade de usar saliva seja zero”. Além disso, existem lubrificantes com mesmo PH da vagina, sem sabor, que não causam alergias, com anestésico, com esquentador, vibrador e outras variedades.
E qual a lubrificação ideal? “É aquela que não gera desconforto. Lubrificante não é sobre quantidade e sim sobre fluidez. Não tem a ver com tamanho de pênis, nem largura de vagina”, explica a ginecologista.
Duração não tem regra
Não existe regra sobre duração ideal de uma transa. “Sexo não é só penetração, preliminar é desde o beijo na boca, se esfregar, roçar, sexo oral”, explica a sexóloga Erika. Portanto, o acerto de tempo ideal fica por conta dos envolvidos.
Masturbação vicia?
Masturbação é saudável e não é ela em si que vicia. “É a casadinha masturbação e pornografia que vicia”, afirma a sexóloga.
Para as mulheres que querem começar a sentir prazer sozinha, “vale experimentar com vibradores clitorianos, dildos, próteses, com os dedos, explorar e ver como se sente com todos esses brinquedos eróticos”.
Cuidados com os brinquedos eróticos
O cuidado indispensável com o brinquedo erótico é sempre lavá-lo depois do uso com água e sabão, deixar secar e guardar num lugar limpo. “O uso do preservativo também ajuda na higiene e prolonga a vida útil do brinquedo, pois nossas secreções podem danificar o silicone do material a longo prazo. Se for um brinquedo usado a dois, dividido, aí tem que usar mesmo”, recomenda a ginecologista.
Transar pela 1ª vez
“Na iniciação sexual, é importante ir sem a cobrança de que tudo precisa acontecer na primeira vez, ou que precisa gozar. É um momento de troca, de intimidade, de conhecer e explorar bem o seu corpo e o da outra pessoa. É para ir relaxada e curtir.”
Para quem faz penetração vaginal, o que pode causar dor na primeira relação é o medo e a ansiedade, pois “a vagina é um músculo que se estende, mas também contrai com a tensão, podendo causar dores”.
Nesse caso, a dica da ginecologista é “se conhecer, saber como se tocar e onde, proporcionar orgasmos a si mesma e entender que esse estímulo é diferente quando entra uma segunda pessoa”.
Hímen e mitos sobre virgindade
“Associar o rompimento do hímen à virgindade é uma bobeira”, afirma a médica. “A virgindade é um estado. Você acha que você já transou? Sim? Então você não é mais virgem, mesmo sem penetração.”
O hímen é uma pele fina que fica na entrada da vagina e “é resultado do encontro da formação embrionária da vagina e da vulva”. Ele pode romper em outras situações para além da penetração e não define a virgindade de uma pessoa.
Sexo e menstruação combinam?
Assim como na gravidez (Pode fazer sexo na gravidez?), transar menstruada não tem problema nenhum em relação à saúde, vai depender do desejo e consentimento de ambos.
Algumas pessoas que menstruam gostam e até sentem mais tesão durante o período. Você pode usar recursos: colocar uma toalha na cama, transar no banheiro ou usar um disco menstrual para conter o fluxo. Em transas heterossexuais, “algumas mulheres cis preferem e aproveitam o período menstrual porque o risco de engravidar é menor”, afirma a ginecologista.
Mas atenção: para evitar DST’s, o preservativo é fundamental.
Orgasmo com ajuda das mãos
“É supernormal atingir o orgasmo com o toque externo, é o que acontece com a maioria das mulheres. Apenas 30% das mulheres conseguem chegar ao orgasmo por penetração sem estímulo externo, é uma minoria”, afirma a sexóloga.
“Tudo o que faz gozar é estímulo clitoriano. Se é por penetração, é a ramificação interna, se é por fora, é a parte externa do clitóris. Numa relação heterossexual, a maioria goza dessa maneira: sendo penetrada e tocando-se. Deixou de ser considerado uma disfunção quando teve a alteração do DSM-4 para o DSM-5 (Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Não é um tipo de anorgasmia, nem um problema.”
Agora, se você quer explorar um pouco mais, pode usar brinquedos vibradores em “U”, que facilitam o orgasmo pela penetração, ou os géis vibratórios. Mas sem neurose! Tem como transar gostoso de todo jeito. “Freud errou muito quando disse que mulheres maduras gozam pela penetração e as imaturas gozam pelo clitóris. Tudo é pelo clitóris”, declara a sexóloga.
O pênis não é o rei da festa
Abaixo a cultura falocêntrica! “Esse pensamento de que não existe sexo se não tiver penetração é muito limitado, inclusive do ponto de vista da diversidade. Então lésbica não transa? Homens gays que se esfregam não estão transando? As pessoas com disfunções sexuais, que sentem dor, não transam?”
“Idosos que não podem tomar Viagra por conta de uma hipertensão ou diabetes, mas fazem sexo oral no seu parceiro também estão transando. A sexualidade é ampla, além de pênis e vagina.”
Tabelinha como contracepção
A tabelinha pode ajudar, mas não sozinha como método contraceptivo. “Sou super a favor de que a paciente use um combo tabelinha com camisinha, tabelinha com DIU de cobre, tabelinha com diafragma. Isso para mulheres que não querem usar o método hormonal, porque altera o desejo”, diz a sexóloga. Se um falhar, tem o outro na retaguarda.
Como saber se estou ovulando?
A ginecologista explica: “saber a fase de ovulação vai depender de conhecer o seu corpo durante todo o ciclo. Para quem tem o ciclo muito regular, é mais fácil, dá para usar tabelinha. Para adolescentes e para quem não tem um ciclo muito regular (uma vez é 27, outra 29, outra 30), é mais difícil.”
“Muitas pessoas esperam o muco semelhante à clara de ovo para saber se está ovulando. Mas esse muco pode aparecer quando você tem uma produção maior do hormônio estradiol, e você não está ovulando. Ou às vezes essa produção está atrasada, pode vir depois que você já ovulou. Por isso não dá para se basear em sinais quando o ciclo não é tão certinho.”
Pílula do dia seguinte
A pílula do dia seguinte é para ser usada o quanto antes. “Se você toma ela até 4h depois do ato, ela tem a capacidade máxima de sucesso. A partir daí, a eficácia vai diminuindo.”
“Não é 100% eficaz, porque é um hormônio. O método dela é assim: eu finjo para o meu corpo que eu já estou para menstruar e que não posso engravidar. Porém, às vezes tem um corpo que precisa de muito mais hormônio e a PDS não é suficiente”.
A Dr. Karen lembra que a PDS pode alterar e bagunçar um pouco o ciclo menstrual.
Camisinha no sexo anal
Tem como transar gostoso e com segurança no sexo anal também! Nesse caso, camisinha e lubrificação são uma boa dupla. “Mesmo quando defecamos, se não tem lubrificação, machuca o ânus. O pênis acaba machucando o ânus também. Existem microfissuras entre a glande e o corpo do pênis e o próprio ânus também tem fissuras. A camisinha é importante para que não ocorra troca de sangue, prevenindo DST’s.”
Se for ter uma relação vaginal depois, o preservativo é indispensável. “Tem que trocar a camisinha para não levar bactérias do ânus para a vagina, que podem causar infecções com dor, ardência, odor e outros desconfortos”, alerta a ginecologista.
Fissuras durante o sexo
As fissuras podem ocorrer após penetrações vaginais ou anais. “Quando a pessoa diz que está assada, é por conta das fissuras. Elas incham, provocam dor e muita gente não consegue transar por mais tempo”.
Por isso, “a regra para qualquer tipo de penetração é lubrificação. Quanto mais lubrificação, menos fissura”, afirma a ginecologista.
Transo bem ou transo mal?
Não existe termômetro padrão sobre como transar gostoso. Ser bom de cama ou ruim de cama é relativo e depende dos desejos dos envolvidos, como citado na primeira dica. “Se a pessoa se conhece, ela direciona a outra parte, consegue pedir, trocar ideia”, afirma a sexóloga Erika.
Então, ser bom de cama é se conhecer e estar a fim da troca. “Às vezes, com uma pessoa é ruim, mas com a outra é bom. Tudo depende da química do casal, do quanto eles se conhecem e compartilham intimidade”.
Assista às entrevistas
Ginecologista Karen Rocha
Sexóloga Erika de Paula
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Autora Thalita Lima é jornalista, poeta e fotógrafa baiana.
Instagram: @thalitalimayo
thalitalima.com
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Artigo revisado por:
– Karen Rocha, médica ginecologista e obstetra, CRM: 106923, formada pela Universidade Federal de Uberlândia. Estuda questões de sexualidade e gestação, sexualidade na adolescência, pobreza e dignidade menstrual
– Erika de Paula, psicóloga CRP: 0680682, sexóloga, educadora sexual e mãe de dois filhos. Atua na área da sexologia desde 2015, ministrando cursos e realizando atendimentos individuais e de casais.
https://www.instagram.com/erikadepaula.sexualidade/
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