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13 de Jun, 2022

A Espanha pode ser o primeiro país da Europa a legalizar a licença menstrual para quem sofre com dores incapacitantes durante a menstruação. Em maio deste ano, a Ministra de Igualdade, Irene Montero, aprovou o projeto da lei do aborto, que inclui casos agudos de dor menstrual sob a especificação de incapacidades temporárias. A pessoa que sofre com esse quadro poderá solicitar um atestado ao clínico geral e a licença será coberta pelo governo espanhol.

“Vamos ser o primeiro país na Europa a falar de saúde menstrual como um tema de saúde, um direito. Eliminamos esse estigma, culpa, vergonha e solidão que as mulheres vivem durante a menstruação”, disse em  entrevista para a Radiotelevisión Espanhola (RTVE). 

Enquanto a lei espanhola segue para aprovação no Parlamento, aqui no Brasil e no mundo o debate sobre dignidade menstrual ganhou força. Afinal, qual seria a dimensão de tais medidas se aplicadas à realidade brasileira? 

Os dados mostram que ainda estamos atrasados no debate sobre dignidade menstrual. Segundo pesquisa realizada em 2021 pela SEMPRE LIVRE, em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab, 94% das mulheres brasileiras afirmam que nunca ouviram falar sobre pobreza menstrual. No entanto, 4 em cada 10 mulheres que menstruam sofrem com a pobreza menstrual no Brasil, o que representa mais de onze milhões de pessoas.

Num cenário socialmente desigual como o nosso, a pobreza menstrual se apresenta quando corpos que menstruam (mulheres cisgênero e homens trans) recorrerem a gambiarras para conter o fluxo menstrual, utilizando miolo de pão, folhas de jornal, panos, meias, papel higiênico, saco plástico. Segundo dados da mesma pesquisa, 12% das entrevistadas já deixaram de ir à escola por não terem recursos para conter o fluxo durante o período.

O problema é mundial e a falta de dignidade menstrual vai além da compra de absorventes. Envolve questões de educação sexual e reprodutiva, acesso à água potável, saneamento básico e o tabu que rodeia a menstruação.

 

Como o tabu da menstruação afeta a dignidade menstrual

Em muitas culturas, o sangue menstrual é visto como algo sujo, nojento. Os absorventes são passados de forma escondida na sala de aula, as meninas usam casacos na cintura e termos como “está de boi” ou “está de chico” são usados para evitar a expressão “menstruação”.

Para a ginecologista e obstetra Karen Rocha, manter as mulheres na ignorância sobre os seus corpos serve a um sistema machista, pois “quanto menos as mulheres souberem, mais fácil será controlá-las.” 

“O sangue menstrual não é nojento. O corpo se prepara para receber o neném, o neném não vem, então o corpo elimina essa casquinha. Na verdade, é um sangue de limpeza”, afirma a médica.  

Para ela, esse olhar de repulsa ao ciclo é fruto de uma falta de conhecimento sobre o próprio corpo, pois as meninas são censuradas ao se tocarem, enquanto os meninos são estimulados à masturbação desde cedo. 

“Por quê a cena de uma mulher atingindo o orgasmo por conta própria ainda é chocante no Brasil?”, questiona a médica sobre a cena da novela “Um Lugar ao Sol”, em que a personagem Rebeca (Andréa Beltrão) se masturba na cama. Para conhecer o próprio corpo, as mulheres precisam se tocar, entender sua anatomia, seu fluxo, explorar sua sexualidade com brinquedos eróticos, um vibrador clitorianocom as próprias mãos ou aprender a se olhar no espelho.

Não estamos falando sobre coisas distintas, pois o tabu da menstruação é justamente por conta de sua associação com a sexualidade. E a informação precisa chegar tanto aos corpos que menstruam quanto à classe médica. 

“Atendo muitos homens trans e eles não têm ninguém para ir. Os homens trans que ainda não fizeram cirurgia e têm um pouco de menstruação ou seios, estão morrendo por câncer de colo e de mama, porque os médicos não querem atender”, relata a doutora Karen. 

A dignidade menstrual só vem com atenção aos corpos dentro da sua diversidade racial, econômica, identificação e orientação de gênero, e quando falar sobre menstruação é algo naturalizado.

 

Menstruar sempre dói?

Para 51% das mulheres brasileiras, o mal-estar durante o período menstrual é intenso e inclui cólicas abdominais, dores de cabeça e inchaço. Conforme explica a ginecologista endócrina Mara Diegoli, especialista em alterações da menstruação, cada faixa etária apresenta uma característica.

“Quanto mais jovem, maior a tendência de ter cólica menstrual, porque o útero da adolescente é pequeno e a quantidade de prostaglandina é maior proporcionalmente ao tamanho. A prostaglandina é uma substância que faz o útero contrair para eliminar a parede do endométrio. Dependendo da intensidade da dor, a pessoa pode precisar ficar acamada”, pontua a ginecologista.

Em geral, a TPM gera alterações físicas e psíquicas e o sintoma menstrual mais comum é a dor de cabeça, que acontece por conta da redução do nível de estrogênio no corpo e dilatação dos vasos sanguíneos. Existem muitas formas de tratar a dor de cabeça, afirma a ginecologista, entres elas a medicamentosa, que inclui remédios de ação imediata (como analgésicos) ou para interrupção da menstruação (como os hormonais).

Para a doutora Mara, “se as dores não diminuem depois dos 30 ou 40 anos, precisa ser investigada e tratada”. Existem métodos para melhorar os sintomas caso a menstruação esteja atrapalhando, mas o que não pode é enxergá-la como algo ruim, pois é um processo natural do organismo. 

 

Coletores menstruais e absorventes sustentáveis

No mercado de absorventes, por exemplo, já existe uma infinidade de opções sustentáveis para conter o fluxo menstrual, como coletores menstruais, calcinhas absorventes, absorventes de pano reutilizáveis e discos menstruais. Porém, justamente por conta dos dados negativos sobre dignidade menstrual na realidade brasileira, essas opções ainda não são acessíveis para todo mundo. 

“O coletor é uma ideia ótima, mas eu preciso de um mínimo de acesso à higiene, ele vale para as calcinhas reutilizáveis. Preciso de sabão, preciso ter onde secar, preciso de água fervente. Se eu não tenho isso, o melhor acaba sendo o descartável mesmo”, explica a ginecologista Karen Rocha.

Já para o uso de chás, as ginecologistas são mais cuidadosas. Chás para descer a menstruação “podem funcionar se as causas são leves, como estresse”, afirma a doutora Karen. Mas muita atenção, pois em casos de gravidez, o uso sem orientação desses chás pode levar a complicações para o feto e para a mulher. 

 

Educação sexual e ações de micropolítica

dignidade menstrual é tema do curta-documentário Absorvendo o Tabu, disponível na Netflix. O filme conta a história de uma iniciativa realizada num vilarejo da Índia: a fabricação de absorventes biodegradáveis de algodão para uma população que ainda lida com a menstruação de forma muito estigmatizada.

A iniciativa capacitou mulheres para produzir os absorventes de baixo custo e gerenciar o negócio das vendas, levou mulheres e homens a conversarem sobre o tema e deu origem ao The Pad Project, com atuação global e missão de combater o estigma da menstruação e empoderar mulheres.

A aposta em ações de micropolítica através da educação é também o objetivo do projeto Ser de Lua, idealizado pela psicóloga Dayana Almeida (@vulvarias), mestra em Educação Sexual, terapeuta orgástica, hipnoterapeuta, maker e pesquisadora em sexualidade em parceria com a psicóloga Elânia Francisca (@espacopubere) , especialista em gênero e sexualidade. O projeto leva educação menstrual e ginecologia natural para mulheres e jovens periféricas acima de 18 anos, moradoras do Grajaú e de Parelheiros, região periférica de São Paulo. A ideia é formar educadores que possam disseminar o conhecimento para mais pessoas.

“O papel da ginecologia natural não é substituir a ginecologia médica, mas fazer com que as mulheres se aproximem dos seus corpos, até mesmo para pensar prazer sexual”, explica Elânia, uma das idealizadoras do projeto.

 

O Ser de Lua faz parte de um projeto maior chamado Vulvárias, que também trabalha com educadoras em sexualidade na mesma região (extremo sul da capital paulista) e produz materiais educativos que são vendidos à ginecologistas, fisioterapeutas pélvicos, terapeutas tântricos etc.

Quando se trata desse recorte periférico, estamos falando também de interseccionalidades. “Na região periférica, majoritariamente negra, as meninas negras são muito erotizadas e adultizadas, pois o racismo e o machismo fazem o trabalho de colocar nessa menina a ideia da mulata, da cavalona, a ideia de que elas já são grandes, mesmo tendo 11 ou 12 anos”.

Essa ideia de que mulheres brasileiras, sobretudo negras, possuem sexualidade aflorada, não é uma ideia antiga. A Elânia nos conta que “o Nina Rodrigues, um médico legista do Maranhão, até o ano de 1900, fazia experimentos com hímen (pele fina na entrada da vagina) de bebês negras que resultavam em análises racistas para justificar como um hímen demonstrava desvio sexual e necessidade de educação para a castidade.” 

A hipersexualização de meninas pela sociedade é o que incita a cultura do estupro e atrapalha o processo de autoconhecimento natural dessas meninas sobre seus próprios corpos, sexualidade e ciclos.

Para alcançarmos mudanças sociais profundas no tema da dignidade menstrual, é fundamental investir na educação sexual e reprodutiva, principalmente no ambiente escolar, para que esses corpos que menstruam conquistem autonomia sobre sua sexualidade e saúde.

Mas o Estado também tem papel fundamental. Karen aponta, por exemplo, a inclusão de absorventes nas cestas básicas distribuídas para famílias de baixa renda como uma medida. No Brasil, “quem faz as leis são os homens ou as mulheres ricas que nunca precisaram usar miolo de pão para fazer absorvente. Se só tem o descartável, tem que dar o descartável. É difícil a gente falar qual o melhor tipo de absorvente num país que mal tem sistema de esgoto”, aponta a médica.

Não podemos esquecer que, no nosso país, a maioria das famílias em situação de vulnerabilidade tem uma mulher como provedora. Se essa mulher não pode gerar renda e se sua filha não pode ir à escola, porque não têm como conter o fluxo menstrual, não poderemos avançar na pauta de dignidade menstrual, sequer nas demais pautas, pois estamos excluindo da participação política figuras centrais para o desenvolvimento social. 

 

Quer assistir às entrevistas?

 

Projeto Ser de Lua com Elânia Francisca

 

 

 

Dignidade Menstrual com Karen Rocha

 

 

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Autora Thalita Lima é jornalista, poeta e fotógrafa baiana.

Instagram: @thalitalimayo

thalitalima.com

 

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Artigo revisado pela Dra. Karen Rocha, médica ginecologista e obstetra, CRM: 106923, formada pela Universidade Federal de Uberlândia. Estuda questões de sexualidade e gestação, sexualidade na adolescência, pobreza e dignidade menstrual. www.doutorakaren.com

 

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